Neonazistas disfarçados de lobo mau
E mais: o limitado impacto da IA em eleições, e a agência de influenciadores que mudou a internet da Hungria.
Aqui no Projeto Brief, estamos sempre atentos a novas tendências e inovações na comunicação política ao redor do mundo. Acreditamos que esse olhar para o que está acontecendo lá fora não apenas nos informa, mas também pode servir de inspiração para experimentações aqui no Brasil.
De tempos em tempos, trazemos para cá histórias intrigantes e/ou estratégias inovadoras na cena internacional. Desta vez, em uma parceria com o D-Hub, trazemos casos um tanto impressionantes envolvendo nazismo, inteligência artificial e uma escola de influenciadores (infelizmente nada envolvendo ETs). Aproveitem!
Neonazistas disfarçados radicalizam cidadãos conservadores no Telegram
O Institute for Strategic Dialogue, organização internacional dedicada a enfrentar o extremismo e a desinformação, fez uma descoberta intrigante: no Telegram, neonazistas estão se disfarçando de conservadores ponderados para radicalizar cidadãos, com uma operação bastante refinada.
O coletivo Terrorgram, conhecido por disseminar propaganda neonazista online, criou uma rede de canais no aplicativo que, à primeira vista, parecem ser apenas dedicados a discutir temas políticos e sociais a partir de uma perspectiva conservadora. A maioria dos conteúdos postados por administradores são materiais retirados de veículos de mídia tradicionais, que tratam de temas cotidianos.
Contudo, esses canais funcionam como uma isca: uma vez lá dentro, seus membros passam a ser expostos a conversas e comentários com conteúdos radicais, e convidados a se juntar a outros canais – esses, neonazistas de verdade.
Além de tentar seduzir pessoas mais próximas do centro político para o extremismo, o Terrorgram também tem esforços parecidos focados em quem já é extremista, mas ainda não é nazista. Para isso usaram, por exemplo, um canal associado ao podcast de Steve Bannon, importante ideólogo e estrategista da extrema-direita que liderou a campanha eleitoral de Donald Trump em 2016.
Este artigo aqui conta a história inteira! E é importante lembrar que neonazistas também estão organizados para aterrorizar as redes aqui no Brasil.
Uso de inteligência artificial cresce, mas (ainda) não muda a direção de eleições ao redor do mundo
Nos EUA, na Europa, e também aqui no Brasil, especialistas estão dizendo que o impacto da inteligência artificial em eleições vem sendo menor do que o esperado este ano.
O principal medo era que ferramentas de IA generativa turbinassem esforços de desinformação, mas isso não aconteceu. O volume de conteúdos problemáticos produzidos com IA que viralizaram em contextos eleitorais é relativamente pequeno, e esses conteúdos chegaram principalmente a pessoas que já estavam convencidas das mensagens passadas.
O impacto dessas novas tecnologias em eleições parece ser apenas incremental até o momento. Sua relevância ainda fica bem atrás de outros métodos já consolidados na manipulação de debates digitais, como o uso de redes de robôs (que pode ser refinado com IA) e de influenciadores digitais. Neste momento, o uso de IA é mais relevante como forma de constranger políticos e fomentar o caos – como vimos no caso das deepnudes produzidas contra Tabata Amaral (PSB-SP), Marina Helena (Novo-SP) e outras candidatas –, do que como forma de conquistar a opinião pública em grande escala.
Isso não significa, contudo, que podemos baixar a guarda. Pelo contrário: conforme a tecnologia avança e se torna melhor integrada às estratégias de atores políticos de peso, seu impacto deve crescer. Não à toa, Rússia e China já estão investindo pesado no uso de IA em esforços para manipular debates digitais ao redor do mundo.
Na Hungria, uma agência de influenciadores digitais alinhada ao governo pauta o debate digital
Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria, é uma das principais lideranças da extrema-direita internacional. No poder desde 2010, é fonte de inspiração para Trump, Bolsonaro e outros líderes autoritários, interfere diretamente em eleições ao redor do mundo, e implementou com sucesso políticas e práticas antidemocráticas que são replicadas mundo afora.
As estratégias que Orbán usa para moldar o debate público e sustentar apoio popular tem um elemento pra lá de interessante: seu partido, o Fidesz, conta com o apoio da Megafon, uma agência de influenciadores digitais multimilionária que está afogando as redes com seus conteúdos.
Ninguém sabe de onde vem o dinheiro da Megafon, mas ela está entre os maiores anunciantes da Europa em plataformas digitais, gastando milhões de Euros por ano em propaganda. Juram ser uma uma agência independente, mas os conteúdos que produzem e impulsionam são alinhados às pautas do governo, e seu fundador, Istvan Kovacs, construiu carreira dentro do partido.
E o mais interessante: a Megafon cobre todas as pontas da influência digital. Eles dão treinamentos para pessoas se tornarem influenciadoras, investem no seu crescimento, pagam pelos seus anúncios, e coordenam seu trabalho. Afinal, por que se dar ao trabalho de negociar apoios individualmente com influenciadores independentes, se você pode construir o seu próprio exército de influência?
O D-Hub é uma rede global que conecta pessoas e organizações na defesa da democracia, oferecendo estratégias, capacitação e suporte para fortalecer iniciativas democráticas ao redor do mundo.
Saiba mais: https://dhub.org/