Governo em crise, oposição em festa
Conversamos com duas das maiores especialistas em gestão de crise do Brasil pra entender como se comunicar melhor no meio do caos.
Quem acompanha de perto já percebeu: a cada semana, o governo enfrenta uma nova crise. E nem é exagero retórico.
Do recuo no IOF ao escândalo no INSS, passando pela crise do Pix, alta no preço dos alimentos e trocas de ministros, o governo tem colecionado desgastes e vê sua popularidade derretendo, mesmo que, no geral, tenha bons resultados na mão.
A inflação está sob controle, o PIB subiu acima do esperado, o desemprego segue em queda e os investimentos estão em alta. Mas, no Brasil de 2025, dados não bastam: uma crise mal administrada é capaz de ofuscar qualquer conquista. Segundo a última pesquisa Quaest, Lula chegou ao pior patamar do mandato: 43% de avaliação negativa e apenas 26% de positiva.
Enquanto isso, a extrema-direita nem precisa fazer tanto barulho. Basta esperar o próximo tropeço para empacotar e viralizar. E é isso que vem acontecendo: eles dominam o timing, a narrativa e a distribuição. O governo? Chega atrasado, com uma nota técnica ou uma coletiva burocrática quando o estrago já está feito.
A comunicação institucional está falhando. Mas isso não é (só) tarefa do governo. Em tempos de ataque coordenado, desinformação e disputa simbólica, o campo progressista também precisa agir: traduzindo, sustentando e amplificando o que precisa ser dito.
Por isso, neste especial do Projeto Brief, ouvimos duas das maiores especialistas em gestão de crise do país – Marilia Stabile e Heloisa Joly – para entender, com profundidade e sem rodeios, o que dá certo (e o que definitivamente não dá) quando o feed vira campo de batalha e a versão oficial chega depois do meme.
O que aprendemos sobre Gestão de Crise
🔸 1. Crise é parte do jogo. O que diferencia é o preparo.
Não existe governo blindado. Toda gestão – especialmente em um ambiente polarizado e sob ataque constante – vai enfrentar crises. O que muda é a capacidade de resposta, que não pode ser feita no improviso. É preciso estrutura: ter tudo o que pode dar ruim mapeado, papéis definidos, canais diretos de comunicação, porta-vozes treinados e aliados prontos para agir em rede. Montar o comitê de crise depois que a bomba estourou é como construir um extintor com a casa pegando fogo.
🔸 2. O timing define quem molda a narrativa.
O caso do Pix é emblemático: enquanto o governo organizava reunião, revisava minuta e discutia internamente como responder, Nikolas Ferreira já tinha publicado um vídeo com milhões de visualizações. Em vez de discutir a proposta real, o debate público foi capturado por uma versão distorcida – emocional, simples e mobilizadora. Tempo e tom, como alertam as especialistas, não são apenas detalhes, mas armas políticas. Quem fala tarde ou com linguagem equivocada (acadêmica demais, técnica demais, neutra demais) perde o protagonismo, ainda que tenha razão.
“Esperar a crise escalar para responder é abrir mão da narrativa. Se você não for o protagonista, vai correr atrás da versão dos outros.” – Marilia Stabile
🔸 3. Reputação se constrói antes da crise, não durante.
Se a comunicação só aparece quando tudo desanda, a imagem pública vira sinônimo de problema. O que segura o governo em tempos difíceis é o lastro: a memória recente de presença, entrega e coerência. Heloisa Joly chama isso de “colchão reputacional”. Quando ele existe, a crise amortece. Quando não, vira tombo seco – e qualquer ruído ganha proporção de desastre.
🔸 4. Nem toda crise merece resposta pública. Mas toda crise exige leitura.
Responder tudo é um erro. Ignorar tudo, também. A chave está em avaliar o alcance real da crise. Ainda está restrita à bolha ou já virou conversa de bar, grupo de família e fila do metrô?
Reagir por impulso, na tentativa de “calar a oposição”, pode dar palco, aumentar o alcance e criar uma crise maior do que a original. Saber onde entrar (e onde não entrar) é parte do jogo.
🔸 5. Quando a crise ganha tração, o silêncio custa caro.
Se o tema já extrapolou as bolhas e ganhou atenção pública, não dá mais pra ignorar. A ausência de resposta não é vista como prudência, mas como omissão. Mesmo quando há erro, é melhor admitir e explicar o que está sendo feito. Nas palavras de Marilia Stabile, o que a população espera nesses momentos não é perfeição, mas clareza, firmeza e direção.
“Se você se cala, perde a chance de colocar argumentos na boca de quem pode te defender.” – Heloisa Joly
🔸 6. Falas públicas precisam sobreviver ao corte
Em tempos de cortes, prints e memes, não basta informar. É preciso disputar o sentido do que aconteceu, com posicionamento claro e emoção legítima. Falas técnicas, neutras ou excessivamente explicativas têm pouco alcance – e viram meme ou desinformação em questão de minutos. A forma importa tanto quanto o conteúdo. O tom, o enquadramento e o posicionamento são parte da mensagem.
Quer saber mais?
No site, a gente detalha cada uma dessas lições – com exemplos, caminhos práticos e sugestões de como governos, organizações e comunicadores podem se preparar (ou, pelo menos, parar de correr atrás do prejuízo).
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Porque comunicação não é acessório. É infraestrutura política.
E, em tempos de crise, vira linha de frente.
Contamos com vocês nessa!
Um abraço,
Equipe do Projeto Brief.