Crime organizado, abuso de menores e tráfico humano: conheça o ídolo criminoso de Pablo Marçal
Como o redpill Andrew Tate usou a tática dos "concursos de cortes" para se tornar a pessoa mais pesquisada no mundo.
Olá, assinante!
Tenho certeza que, de alguma forma, você já tomou dimensão do alcance da campanha de Pablo Marçal em São Paulo. Rapidamente, ele se tornou um dos principais protagonistas da eleição de 2024 em São Paulo. O que poucos sabem é que essa metodologia foi inspirada em um influenciador envolvido em uma série de crimes. Hoje, vamos te contar quem ele é.
E um spoiler: ele está envolvido em casos de estupro, abuso de menores e até tráfico humano. E acaba de ser condenado por sua rede de crimes.
Anote este nome: Andrew Tate. Você ainda vai ouvir falar muito dele nas próximas semanas.
Andrew Tate: mestre do ódio e ídolo de Pablo Marçal
Andrew Tate, um ex-atleta britânico e ícone do movimento redpill, ganhou notoriedade após ser expulso do Big Brother por agredir uma mulher. Tate, assumidamente misógino, usa as redes sociais para promover ódio e radicalismo, especialmente entre jovens. Com uma estratégia descentralizada, ele incentiva seguidores a viralizar seus conteúdos, criando concursos e oferendo prêmios em dinheiro. Uma estratégia descentralizada, randômica e que massifica rapidamente esses conteúdos para além do nicho de seguidores. A única regra é conquistar o máximo de visualizações e de engajamento possível. Essa tática deu tão certo que, atualmente, escolas em toda Inglaterra começaram a procurar associações que desenvolvem programas educativos anti-misoginia. Por toda parte, garotos e homens jovens reproduzem seus bordões, discursos e ideias, reproduzindo intolerância às mulheres, recusando a seguir figuras de autoridade e tentando recriar o mundo a partir da lógica redpill, na qual homens lutam contra as mulheres. Em 2022, Tate foi o nome mais buscado no Google.
Como a tática de Tate virou arma política no Brasil
A essa altura, você já entendeu qual a conexão de Tate com Pablo Marçal: o coach adaptou a estratégia de Tate para o Brasil, trocando a misoginia pela promessa de riqueza e prosperidade.
O Método Tate foi aplicado nos concursos de cortes que Marçal também organiza, ampliando seu alcance digital exponencialmente. E, da mesma forma que Tate é amplamente conhecido nas ruas e escolas inglesas, Marçal quer dominar as nossas timelines com vídeos prometendo revelar o "código" para uma vida próspera. Com orgulho, o próprio Marçal admitiu a inspiração em Tate, dizendo:
"Eu modelei um americano que fez isso e se tornou o cara mais pesquisado do mundo na Internet".
— Pablo Marçal
Criminalidade muito além dos concursos
A estratégia de atrair editores voluntários com promessas de dinheiro fácil levanta questões éticas e beira a ilegalidade. Marçal alega ter interrompido os concursos ao se candidatar, mas essa tática é apenas parte de um esquema maior.
Na Inglaterra, esse plano de negócios levou à condenação de Andrew Tate, atualmente extraditado da Romênia e cumprindo prisão domiciliar.
Aqui, no Brasil, pode levar Pablo Marçal ao cargo de prefeito de São Paulo.
Como era impossível para Tate se dissociar da imagem de agressor, ele construiu um discurso de combate às mulheres. Enquanto incentivava seus seguidores a odiarem mulheres, Tate as seduzia, mostrando-se um namorado perfeito, e depois as prendia e forçava a produzir vídeos para plataformas de conteúdo adulto. Mesmo condenado, Tate ainda é visto por seus fãs como um guerreiro perseguido pelo sistema, uma imagem que Marçal também tenta imitar justificando suas ações como fruto de perseguição de uma sistema contrário às suas ideias, minimizando investigações contra ele e até a condenação e prisão por golpes financeiros. Ambos tentam convencer que não fizeram nada de errado.
No caso de Tate, ele alega estar exercendo seu "papel" enquanto homem. No caso de Marçal, que chegou a ser preso pelo envolvimento com golpes digitais, o influenciador tenta se defender dizendo que não sabia do que se tratava, que exerceu um pequeno papel na operação e até que agiu a mando do pastor de sua igreja. Mas a Polícia já confirmou que Marçal, tanto sabia de todo o esquema, como inclusive delatou os outros comparsas para ser solto.
Como escapar de (uma acusação de) um assassinato
Diminuir as consequências de seus próprios atos é crucial para manter essa ideia de perseguição viva. Marçal se coloca como um homem predestinado a prosperar a qualquer custo, sempre culpando leis e regras por impedir seus planos, como os vilões de Scooby-Doo culpando as crianças enxeridas.
Mas também é importante para eles porque a tática desses influenciadores necessita desrespeitar as regras do jogo para prosperar. O modelo de negócios desses influenciadores, coaches e agora candidatos picaretas só cresce à margem da lei.
Para vender suas mentorias que "desbloqueiam a chave do sucesso", Marçal precisa aparecer em uma mansão de Alphaville, com carrões e quebrando relógios que custam R$ 1 milhão de reais. Só que é difícil levantar um patrimônio tão expressivo honestamente. E para chegar onde chegou, ele carrega um histórico de acusações de fraudes, golpes e até falsidade ideológica. Nas redes, ao prometer experiências de mentoria transformadoras, ele precisa inventar ideias cada vez mais mirabolantes para seus clientes. Mesmo que essa ideia seja uma trilha perigosa que coloque em risco a vida deles.
E na política, precisa de uma rede subterrânea de pessoas reproduzindo seus vídeos massivamente por baixo dos panos. O plano perfeito para quem quer polemizar pautas, caluniar opositores e inflar sua influência no cenário político. E por isso é ilegal, porque desbalanceia o jogo eleitoral.
Para terminar (ou começar)...
Após ter as suas redes suspensas, no fim de semana, Marçal criou um novo perfil e comemorou ter atingido rapidamente a marca de 2 milhões de seguidores (e até a última vez que checamos, já passava dos 3,5 milhões, o que já é mais do que o acumulado pelos outros candidatos). E, para sua defesa nesse processo, Marçal convocou um advogado especializado em ensinar seus seguidores nas redes sociais a mentirem e se livrarem de condenações pelos mais diversos crimes, inclusive homicídios. É certamente um novo começo para um candidato que já apresenta fortes indícios de cometer crimes eleitorais, e nenhuma disposição em seguir as regras do jogo até as eleições, que acontecem em menos de 40 dias.
Crimes, golpes e esquemas fraudulentos levaram um outsider da política ao segundo lugar das pesquisas. Mais do que vencer figuras como essa no voto, temos o desafio de entender que saídas temos quando parte da população parece não ligar para o desrespeito às regras do jogo como estratégia política.
Pra gente encerrar essa news de hoje, queremos saber: qual a sua visão e opinião sobre isso? Tem algumas ideias por aí de como mudar essa disputa?
Conta para gente em resposta a esse e-mail! Estamos atentos às suas ideias e opiniões sobre a política, e nossa News.
Um abraço,
Hiago Vinícius, do Projeto Brief.